“Vasos chineses se quebram. Copos de cristal,
ventiladores de teto, discos da Tina Turner, se estivermos com sorte.
Pessoas nunca, a não ser quando esquecem de olhar os dois lados. Mas
emocionalmente falando, não. Quem sou eu pra dar pitaco na sua fossa?
Ninguém. Você levou um tombo e tanto, e pronto. Se machucou, ok. Dói, eu
sei. Perdeu sua capacidade de amar, verdade. Ou não. Não existem
verdades, apenas versões, na minha versão. Sei bem como funciona,
quantas vezes já fui dispensado do amor. Muitas. Quis quem não me
queria, amei quem enganava, compartilhei unilateralmente, acreditei no
sonho hollywoodiano, me quebrei, levantei, desisti, contei mentiras,
interpretei. Parece propaganda de telefone celular via rádio estrelada
pelo Fábio Assunção, mas é só minha versão daquele trânsito caótico de
um amor para outro. Você não se quebrou, eu não me quebrei. Nascemos com
a disposição natural para o amor. Falo por você e eu, não pelos
bárbaros da história - Hitler, por exemplo. Sim, não conseguimos
imaginar viver sem, sentimos saudade, choramos, compramos discos e
livros por impulso, atravessamos sábados com calças de abrigo revisando
filmes melancólicos. (…) Bem, como gosto disso de sofrer com pés na
bunda, resolvi amar de novo, a contragosto, paladar típico de um
desistente. Cafés da manhã românticos, passeios de mão, festas em
família, palpites de sogra, distribuição de beijos e mordidas em
pezinhos pequenos. Viajamos pelo mundo sem sair de casa.”
Gabito Nunes |
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