“Bem, hoje, escreverei sobre minha amargura.
Amanhã - provavelmente - falarei sobre minha felicidade. Sou feito de
duplo sentindo e adquiri este dom de mudar e mudar novamente. Sou
incapaz de ter uma compreensão sincera de mim próprio. Poderia dizer que
sou um robô: incapaz de definir seu próprio intuito de existir. É
difícil ser eu. Sou incapaz de realizar tarefas das mais simples: ser.
Não consigo ser o que este papel velho quer que eu seja. Já tentei ser
poeta, mas poeta sofre de lonjuras e eu sofro de ser o que sou: nada. É
complicado definir que você é um nada cheio de nada. O nada se torna tão
opaco que se torna o tudo. Não, não pense que já não tentei ser o tudo,
mas é que o tudo, é somente uma nova denominação para o nada.
Raciocine. Pense. Invente. Mas sempre o nada será mais belo do que o
tudo. O tudo se vai com o vento do outono, enquanto que o nada,
permanece mesmo no constante frio do inverno e nas queimaduras do verão.
O nada sempre preencheu-me e nunca deixou-me. Por outro lado, o tudo já
foi alguém e este alguém já foi embora. O nada nos aniquila e o tudo
nos mata. O nada faz com que eu sinta os batimentos amargos do existir. O
nada, sou eu, revestido por tudo aquilo que já foi embora. O nada é
essa estrela que acabou o brilho, mas continua preso no céu negro. O
nada padece na esperança de ser o tudo de alguém.”
Augusto Soares
Nenhum comentário:
Postar um comentário