"Você não perguntou como foi o meu dia, mas eu
queria te contar mesmo assim. Não foi tão diferente dos outros dias, é
verdade. Sei que não sou uma pessoa muito interessante, que sempre vai
ter assunto em cima de assunto. Sou meio rotineiro, sem graça, mal
feito. Eu sei. Mas em meio as pessoas vazias que encontrei hoje, percebi
que eu, eu estava cheio de você. Não um cheio da forma estúpida da
coisa, era um cheio de vontade, desejo, saudade. Umas três vezes eu quis
estar com você. Tudo bem, foram umas cinco. Eu disse que não gostava
daquele seu cantor favorito, mas me peguei ouvindo uma musica, só para
lembrar de você, só para te trazer pra perto. Porque, você sabe, que
estava longe. De mim, do meu cheiro, de nós. Segui em frente, continuei
meus afazeres diários, minhas sentenças da vida. Vi um casal na rua,
enquanto voltava pra casa, um deles falava: Você não tem medo de nada? E
o outro respondeu: Tenho, de cobras. Eu não me contive, e respondi
também, na minha mente, pensando em você: Tenho, de te perder. Cheguei
no meu quarto, e não te vi na minha cama, já era esperado, sonhos são
sonhos. Que eu sempre tenho esperanças de se realizar. Quis te buscar,
quis te ter, quis chorar, quis você. Mas você sabe, era só mais um dia
qualquer, como os demais. Você não perguntou como foi o meu dia, mas eu
quis te contar mesmo assim."
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